sábado, 11 de julho de 2009

Estrutura metálica e fechamento de telhas trapezoidais na Estação Natureza . Brasil Arquitetura e Apiacás Arquitetos . São Paulo, SP


Vamos viajar de trem? O roteiro começa em uma estação localizada na região oeste da cidade de São Paulo, junto a galpões industriais do século passado. Para onde vamos? Para várias regiões do Brasil, em uma viagem relâmpago para conhecer um pouco mais da fauna e flora brasileiras. E é possível conhecer tanta diversidade em tão pouco tempo? Na Estação Natureza da Universidade de São Paulo, sim. Cinco vagões-contêineres metálicos, dispostos linearmente como um trem, abrigam e revelam seis dos principais biomas brasileiros. Onde mesmo? Junto à plataforma principal da Estação Ciência-USP, no paulistano bairro da Lapa.

O projeto Estação Natureza foi desenvolvido pela Fundação O Boticário com o objetivo de mostrar aspectos variados da biodiversidade do País e despertar no visitante uma maior consciência ambiental. A primeira Estação Natureza foi implantada dentro de um shopping center, em Curitiba, Paraná, em dezembro de 2001. Em 2006, o projeto se expande para Corumbá, Mato Grosso do Sul, com a inauguração da Estação Natureza Pantanal, às margens do Rio Paraguai, com projeto a cargo da Marco Arquitetura. A Estação Natureza-USP, terceira unidade da série, foi inaugurada em fevereiro deste ano e conta com projeto arquitetônico desenvolvido em parceria pelos escritórios Brasil Arquitetura e Apiacás, escolhidos em uma concorrência promovida pela própria Fundação.

A ideia inicial dos clientes era montar uma exposição em vagões de trem de verdade, ou o mais próximo disso, com rodas e janelinhas. A equipe fez outra proposta.

"Encomendaram a réplica de um trem, mas expor dentro de vagões com janelas seria muito desconfortável. Então propusemos módulos que fizessem uma alusão ao trem", conta Marcelo Ferraz, arquiteto titular da Brasil Arquitetura. De fato, o projeto ganhador baseou-se na arquitetura ferroviária e industrial presente no próprio local de implantação do projeto, junto a uma antiga estação de carga e descarga. "Para montarmos a proposta interagimos com várias áreas e formamos uma grande equipe multidisciplinar", explica Ferraz.

Assim, foram concebidas cinco caixas retangulares de 3,5 m x 15 m, revestidas de aço corten distribuídas em sequência na plataforma. Entre cada caixa totalmente fechada, cubos de vidro branco leitoso funcionavam como antecâmaras, respiros necessários entre uma experiência e outra. No projeto, as instalações corriam livres e expostas, de uma maneira bem industrial. "Propomos uma intensa viagem dentro de espaços inusitados, de vagão para vagão", conclui.

Do projeto ganhador ao efetivamente construído alguma coisa mudou no meio do caminho. Como sempre em arquitetura, e muito mais quando de trata do dinheiro de fundações, o projeto teve que se adequar a novos orçamentos. A solução foi escolher um revestimento de fachada que assim como o aço corten também carregasse uma imagem industrial. A equipe optou por revestir todos os vagões com telhas trapezoidais dispostas na horizontal e pintadas na cor vermelha. Utilizadas da maneira tradicional, foram conjugadas com uma manta de lã de vidro e internamente arrematadas com placas de gesso, que receberam todo o conteúdo expográfico.

A estrutura metálica foi erguida com aço galvanizado leve, o light steel frame, com montantes a cada dois metros. No entanto, a modularidade estrutural foi reduzida devido às necessidades especiais expográficas. Como cada vagão abrigava até dois biomas, com muita interatividade e a presença de tanques de água, o projeto estrutural teve que se adaptar a muitas diferenças de solicitação. "Cerca de 30% da estrutura de cada caixa é específica, sem modularidade", explica o arquiteto Pedro Barros, do Apiacás. Já o piso dos vagões é formado por chapas de OSB revestidas pelas tradicionais placas de borracha de alto tráfego. Em meio ao piso, alçapões foram distribuídos estrategicamente, para facilitar o acesso às instalações. As caixas de vidro foram suprimidas: em seu lugar apareceram pequenas varandas e ligação em balanço, exatamente como as tradicionais ligações externas entre um vagão e outro. "Foi um desafio montar uma exposição em um ambiente estreito e comprido, que tivesse a capacidade de receber vinte pessoas por vez em um percurso linear", conclui Barros.

Todas as caixas foram apoiadas em um embasamento de concreto elevado, de forma a possibilitar o acesso por passarelas a partir da plataforma, exatamente como um trem parado na estação. O embasamento também permitiu a formação de um vazio central com instalações, um piso técnico onde se concentram todas as tubulações hidráulicas e elétricas, assim como dutos de ar-condicionado. De acordo com os arquitetos, a nova solução de revestimento pediu que todas as instalações fossem embutidas, o que foi feito.

No fim, os arquitetos tiveram um pedido aceito. Foram trocados os robustos e antigos guarda-corpos amarelos da plataforma por discretas e esbeltas peças metálicas pretas. O conjunto ergue-se em destaque na plataforma, à espera de passageiros e sempre convidativo para mais uma viagem.

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