segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Em condomínio no Chile, casa White O, do arquiteto japonês Toyo Ito, traz trajeto circular e interior aberto

É complicado empreender um projeto de casas como Ochoalcubo sem cair nas aberrações sociais e formais que pode representar um projeto de natureza similar ao de Ordos 100 (um condomínio na China com 100 casas, de 100 arquitetos internacionais). No entanto, já desde o primeiro passo, fica evidente que Ochoalcubo não é um empreendimento imobiliário que surgiu dessa compreensão atual do uso da arquitetura como objeto de luxo.

Em seu caso, apelar ao prestígio de profissionais convidados tem como intenção essencial reforçar o valor e a consistência de uma proposta que quer ser primordialmente um sinal de alarme e de reação no contexto arquitetônico do Chile, um país onde a enorme quantidade de escolas de arquitetura produz um massivo número de titulados para os quais existem escassas possibilidades de trabalho.

É nesse contexto que se inscreve o convite à Toyo Ito: o de um projeto sustentado em um propósito responsável, que parte de uma intenção social mais profunda, mais humana e mais cuidadosamente gestionada da dimensão conceitual e de questionamento urbano - mas, claro, que segue o mesmo objetivo de geração de habitações "de marca", ainda que lhe dando a possibilidade de um novo sentido.

Um dos objetivos base de Ochoalcubo é expor como a arquitetura dos subúrbios se definiu baseada na imitação de modelos arquitetônicos vindos de realidades estrangeiras e com clichês estilísticos. E como essa arquitetura dos subúrbios caiu em uma superficialidade perniciosa que não apenas malinterpreta o sentido da necessidade da arquitetura, mas que gera um sistema que abdica com frequência do arquiteto e de sua intervenção, deixando a criação de habitações na mão de construtores com interesse escasso ou nulo pelo valor arquitetônico do que foi construído.

Contra esse estado das coisas, Ochoalcubo quer ser gerador de uma sinergia que instigue o incremento da qualidade arquitetônica do país, e de uma conscientização sobre a "verdadeira importância do arquiteto como responsável pelo belo, pelo bom, pelo feio e pelo mal de tudo o que vemos nas cidades do mundo", explica Eduardo Godoy, um dos responsáveis pelo departamento de arquitetura da Interdesign, empresa gestora do projeto, que deve seu nome às 64 casas criadas por outros tantos arquitetos em conjuntos de oito casas. "Nesse projeto de oito etapas tentaremos mostrar uma espécie de laboratório de arquitetura, com o objetivo de plasmar em grupos de oito obras diferentes conceitos do que se poderia chamar boa arquitetura, utilizando diferentes materiais, conceitos, dimensões e necessidades", acrescenta Godoy.

Toyo Ito integra a segunda etapa de Ochoalcubo, onde três arquitetos internacionais projetam casas em Marbella, a 160 km de Santiago. O convite ao arquiteto se encaixa perfeitamente aos postulados e ambições sobre os quais se fundamenta o projeto. Toyo Ito gera uma arquitetura cuja substância busca aprofundar na dimensão humana com uma indagação formal e material, a partir de seu conhecimento e de sua inquietude criativa.

A casa desenhada pelo arquiteto japonês recebe o nome de White O para expor seu vínculo de justaposição com White U, a casa que Ito construiu em Tóquio há mais de três décadas. Se a primeira tratava de ter como centro a experiência de uma passagem subterrânea com um interior fechado, este projeto de interior aberto sugere a experiência de estar flutuando no céu.

A residência chilena parte do requerimento prévio, estabelecido com o fim de dotar de coerência o desenho integral do complexo, de um exterior branco, uma cobertura horizontal e muros verticais. Com sua cobertura plana e o sistema de pilotis na fachada, alude ao sistema de construção racional dos primeiros projetos de Le Corbusier, tratando simultaneamente de propor uma qualidade espacial fluida através de uma circulação circular pela casa, que supõe um contraste marcado à concepção corbuseana.

A planta principal se dispõe horizontalmente, a um nível elevado a oeste, frente ao local em declive. Os visitantes cruzam por baixo dos dormitórios a leste, subindo por uma rampa para chegar à entrada. No subsolo estão a garagem e as dependências de serviço. As dependências principais envolvem o pátio interior. Copa, sala de estar e dormitórios dão vista para o campo de golfe a leste.