quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Residência em São Paulo, do escritório Drucker Arquitetura

Com referências à arquitetura paulista dos anos 1950, projeto de residência valoriza a fluidez e a integração dos espaços para aproveitar ao máximo a privilegiada localização
Por Juliana Nakamura Fotos João Ribeiro

Ao se deparar com o lote de 2.500 m² no alto do morro do Morumbi, na zona Sul de São Paulo, a arquiteta Monica Drucker sabia que havia encontrado o lugar ideal para a residência que seu cliente procurava. A área dispunha de uma condição privilegiada que conciliava a vista para o skyline urbano da Marginal do Rio Pinheiros, com a tranquilidade de uma rua arborizada, além de excelentes condições de privacidade asseguradas pelo desnível de 1,5 m em relação à via.

Desde os anos de 1950 o terreno vinha sendo ocupado por uma casa com ótima implantação, metragem adequada e quartos com varandas generosas. Por isso, a ideia inicial foi realizar um projeto de reforma para ajustar a edificação de linhas tipicamente modernistas às necessidades de seus novos usuários - um casal com três filhos adultos. Mas após a análise minuciosa da estrutura, descobriu-se que o retrofit seria econômica e tecnicamente inviável, o que acabou levando à demolição completa da antiga construção.

A intervenção mais radical não significou, contudo, perda de toda a bagagem histórico-cultural. Ao contrário. No projeto de Monica é possível identificar elementos do repertório do modernismo paulista, como as janelas horizontais, os balanços e as linhas de ângulos e brancura rígidos. "A casa se estende quase como um código de barras voltado para a paisagem da cidade", define a arquiteta.

Além da linguagem, a localização do platô original foi mantida por duas razões. Primeiro para preservar o grupo de árvores e bambus existentes e que, agora, definem a entrada, destacando a volumetria, os balanços de 3,60 m e os quadros transparentes. Segundo, porque a implantação permitia atender plenamente aos desejos dos moradores, que ansiavam por uma casa clara, aberta para o verde, mas sem comprometimento da privacidade.

Como forma de valorizar a transparência e privilegiar a integração visual entre interior e exterior, o projeto tirou partido do uso extensivo de vidro, enquadrado por caixilhos de alumínio anodizado, quase sempre em portas de correr. Para dar ainda mais permeabilidade aos espaços, o mesmo mármore travertino levigado utilizado no corredor de acesso à casa reveste o piso de ambientes internos, como nas salas de jantar e estar.

Em contraposição às salas geralmente fechadas nas laterais que caracterizam as edificações tipicamente modernistas, a arquiteta propôs fechamentos de vidro que permitem inundar os ambientes de luz natural, inclusive na entrada da sala, onde o pé-direito atinge 4,5 m. A transparência farta exigiu, porém, soluções para controle da incidência da luz. Telhas termoacústicas ocultas por platibandas foram distribuídas por toda a cobertura para melhorar o conforto e a eficiência energética da edificação. O mesmo motivo levou à instalação de brises e persianas nas faces mais sujeitas à insolação, recurso que contribuiu para resguardar a privacidade dos moradores em ambientes do pavimento superior, ao nível da rua.

O programa distribui-se por dois pavimentos. No térreo foram alocados salas de estar, de jantar, o home theater e o escritório, revelados por altas portas retráteis que interligam os ambientes como um grande loft. No mesmo nível encontram-se a copa e a cozinha, que se abrem inteiramente para a área de lazer externa.

Segundo a arquiteta, diante de ambientes com metragens tão amplas, um dos desafios foi proporcionar uma ambientação aconchegante à casa. Tal preocupação levou à especificação de elementos de escala monumentais, como os lustres da sala de estar. Do lado externo, outra saída encontrada para amenizar a rigidez dos blocos brancos foi a inserção de elementos de madeira, especialmente no deck da piscina e no forro da área da churrasqueira.

Caixilho
A presença de amplos panos de vidro com caixilhos de alumínio branco caracteriza muitos trabalhos de Monica Drucker. Mas nessa casa no Morumbi, a arquiteta queria escamotear ainda mais os perfis, favorecendo a integração entre os lados interno e externo. A solução encontrada, em parceria com o fabricante de esquadrias, foi utilizar uma pintura que reproduz a tonalidade neutra do aço inox. Como o projeto exigia o uso de caixilhos robustos para vencer grandes vãos, outro recurso adotado foi reduzir a largura dos perfis para 6 cm e compensar na espessura.

Distribuição de cargas
Para viabilizar uma estrutura esbelta, capaz de flexibilizar os espaços internos e não comprometer o visual leve e limpo, o projeto estrutural teve como ponto crucial a utilização de laje nervurada de 60 cm de espessura. Nesse tipo de elemento, a zona de tração é constituída por nervuras entre as quais é inserido material inerte, no caso, EPS (poliestireno expandido ou isopor). "Com isso, além de uma superfície plana e rígida, foi possível empregar pilares quase imperceptíveis nas salas de estar e jantar, onde temos vão de 13 m e pé-direito de 4,5 m", explica Monica Drucker.

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