quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Condomínio residencial Vila Gardner, de Gustavo Penna, em Nova Lima, MG

Mais um projeto arquitetônico de destaque em Nova Lima, Minas Gerais. A cidade localizada na região metropolitana de Belo Horizonte, mais precisamente no centro sul, tem atraído investimentos imobiliários e nomes de grandes arquitetos justamente por fazer divisa com uma das regiões mais ricas da capital mineira. Dessa vez nossa atenção volta-se para um condomínio de apartamentos incrustados no Vale dos Cristais, região montanhosa de difícil implantação, dentro de uma reserva natural protegida. Trata-se do Vila Gardner, conjunto de seis edifícios de construção e incorporação da Odebrecht, e projeto de Gustavo Penna.

O condomínio é o primeiro de um total de doze que serão erguidos pela construtora na região. Como estão em uma área de preservação, somente 20% da área total pode ser destinada à construção. "O que me entusiasmou no convite feito pela construtora foi a possibilidade de conceber um projeto de baixo impacto, com poucas superfícies impermeabilizadas", diz Penna. De fato, o terreno reservado aos edifícios tem 28 mil m2, enquanto a área construída dos seis soma 14,8 mil m2.

A primeira questão endereçada ao arquiteto foi sobre o conceito dos edifícios: como seria um apartamento de transição entre a cidade e a montanha? "O maior desafio foi criar um tipo de habitação compatível com esses dois momentos", explica Penna. A resposta está nas principais características do projeto: poucos pavimentos, poucos apartamentos, muitas áreas envidraçadas, varandas e grande permeabilidade. Os edifícios são perfeitamente adaptados às curvas de nível acentuadas do terreno, suas principais aberturas voltam-se para a vista exuberante dos vales ao redor. Cada bloco possui garagem, térreo mais quatro pavimentos com dois apartamentos cada, sendo que o último andar é reservado às coberturas dúplex com piscina, que não carregam a extrema verticalidade como característica principal. A planta de cada pavimento é curva, ora côncava, ora convexa, e organiza-se a partir de um eixo de circulação central. "As janelas se abrem para as áreas preservadas, os prédios não são geometrizados, reticulados, ao contrário, apresentam uma arquitetura mais orgânica, sinuosa", define.

O número reduzido de apartamentos conferiu uma escala precisa e harmoniosa ao condomínio. Um edifício não faz sombra no outro, e a implantação criou uma ambientação interna ilimitada, enquadrada pela extensa natureza do entorno. "O projeto de arquitetura existe graças à topografia, e não apesar dela", diz Penna, que completa "ela inaugura um pensamento, pois os prédios nascem escalados nos espigões".

A área dos apartamentos varia entre 270 m2 e 450 m2, sempre com quatro suítes e varanda inserida em meio às áreas íntima e social. Essa permeabilidade reforça a ideia de liberdade proposta pela implantação, onde os limites estendem-se para onde a vista alcança, e a mata e seus ruídos penetram os apartamentos. A garagem eleva-se no corpo da construção, e o fato de não ser enterrada libera mais área permeável.

Há uma pequena licença poética na área de lazer: com "nascente" na piscina, uma fenda de água revela as curvas de uma cobertura em balanço vazada, por onde se ergue a caixa d'água geometrizada. A imagem remete à beleza mais voluptuosa da arquitetura brasileira, talvez um tanto esquecida.

Todo o conjunto é monocromático e harmônico em relação à materialidade das montanhas. O granito impera em piso e fachadas, e também toma forma de maneira irregular, como saliências, em painéis estrategicamente localizados. Os edifícios não agridem a montanha, simplesmente organizam e enquadram vales e escarpas, na forma de molduras possíveis da generosa natureza do lugar.

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